sábado, 28 de março de 2015

Os Morais Navarro na Serra de Martins

Impressionou-me a constatação da existência da estirpe MORAIS NAVARRO na lendária e uberosa SERRA DO MARTINS, tendo decorridos longos 314 anos que aportou na então cidade do Rio Grande o célebre bandeirante "CALÇÃO DE COURO" - como era conhecido o Mestre-de-Campo MANOEL ÁLVARES DE MORAIS NAVARRO, comandando o não menos famoso "TERÇO DOS PAULISTAS". O epíteto atrela-se ao fato de que a sua indumentária compunha-se de um calção de couro que descia até um pouco abaixo dos joelhos, onde era amarrado a uma espécie de bota, também de couro. Pisou o solo potiguar no dia 18 de Novembro de 1698. Era natural da então próspera Vila de São Paulo, de onde veio incumbido pelo Governador-Geral do Brasil Matias da Cunha, que dirigiu um ofício à Câmara de São Paulo, "pedindo que ela fizesse todo o esforço para conseguir que os Bandeirantes de Piratininga viessem em socorro dos seus patrícios setentrionais", que estavam sendo assolados por um LEVANTE DO GENTIO INDÍGENA. Tal correspondência foi datada de 10 de Março de 1688. Concedidas as primeiras "Datas de Sesmarias" no interior das Capitanias da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, os índios tapuias, aparentados dos Janduís, começaram a sentir os efeitos negativos, representados pela desapropriação de suas terras, para eles indispensáveis à obtenção de sua alimentação voltada para a caça,a pesca e a coleta de mel. Foi assim em Apodi, na região do Seridó, em Assu e na região do Jaguaribe, no Ceará. O combate à indiada hostil foi denominado de "A GUERRA DOS BÁRBAROS", cujo início deu-se no ano de 1683, sendo o epicentro do levante a Capitania do Rio Grande.

Da cidade do Rio Grande, ou Natal, o TERÇO DOS PAULISTAS seguiu para o Arraial do Açu, feudo dos índios Janduins ou Janduís, onde seria a sua atuação bélica. Na Ribeira do Açu novos indígenas foram alistados no Terço, provenientes da Missão Jesuíta do Reverendo Padre Philippe Bourel, Jesuíta alemão responsável pela Aldeia do então Lago Podi (Apodi), formada por tapuias paiacus. Os componentes do Terço tinham o espírito de independência exagerado, ao ponto de Morais Navarro ter saído do Açu e se dirigido até a região do Jaguaribe, onde hoje se localiza a cidade de Limoeiro do Norte, a pretexto de firmar a paz com os Tapuias, comandando 130 infantes e mais de cem índios Janduís. Antes, enviara um índio com fácil acesso àqueles, convidando-os para confraternização, prometendo-lhes presentes para as mulheres e crianças índias. Era uma cilada. Após beberem, comerem e dançarem, o próprio Morais Navarro deu início à matança, eliminando o cacique Jenipapoaassú e seu irmão, sinalizando para que os seus soldados e índios da sua tropa continuassem o cruel trucidamento, que culminou no extermínio de 450 índios, não tendo sido poupados sequer as mulheres e crianças, cujos corpos ficaram expostos, juncando aquelas plagas cearenses com tristeza e dor. Os que caíram ainda vivos pelas balas dos bacamartes e dos arcabuzes, eram passados ao fio das espadas, ou seja, degolados. Esse trucidamento ocorreu a 04 de Agosto de 1699.

No que diz respeito à presença da família MORAIS NAVARRO na "Serra do Martins", encontrei no arquivo morto do 1º Cartório Judicial daquela cidade, um inventário do ano de 1924, no qual consta como inventariado o Sr. ANTONIO CIPRIANO DE MORAIS NAVARRO, que havia falecido a 24 de Janeiro de 1917, deixando a viúva Sra. Lívia Augusta Soares de Morais, e os filhos:

F.01- ALEXANDRINA DE MORAIS SOARES - Casada com Mecenas Messias Soares.

F.02- ANTONIO CIPRIANO DE MORAIS NAVARRO. (Repete o nome do pai). - Casado com Clarice de Lavor Navarro.

F.03- PHILOMENA DE MORAIS NAVARRO.

F.04- THEREZA DE JESUS LISBOA - Casada com José Rosendo de Lisboa.

F.05- IDALINA DE MORAIS NAVARRO.


O patrimônio do falecido representava uma considerável abastança, posto que constava uma formidável fazenda, denominada de "Sítio Oriente, antigo sítio 

Pé-de-Serra, com dois engenhos: Um para a fabricação de farinha de mandioca e o outro para a fabricação de rapaduras. Consta, ainda, uma casa senhorial situada na praça da Conceição (Ao lado da Igreja-Matriz de Martins) fazendo esquina com a Rua Senador Pedro Velho, contando duas portas e duas janelas na frente, e uma porta e três janelas no oitão que deita para o poente, devidamente murada. Essa majestosa casa ainda encontra-se edificada e bem conservada, onde reside atualmente a abnegada professora aposentada AZELMA ROSENDO. Sugiro aos estudiosos da genealogia martinense, que envidem esforços no sentido de procurarem o liame genealógico que liga o descendente martinense ao famigerado Mestre-de-Campo Manoel Álvares de Morais Navarro.

Lendo uma edição fac-similar do jornal "MOSSOROENSE", Edição de 11 de Fevereiro de 1874, encontrei cópia de sentença condenatória do Capitão João Félix de Morais Navarro, que residia na então Vila de Portalegre, sentenciado como um dos autores intelectuais (mandante) dos crimes de mortes perpetrados nas pessoas de José Marcolino de Bessa e de Ricarte José da Silva. Surge a necessidade de acurada pesquisa de campo, para averiguar se este militar deixou descendência naquele belo rincão sertanejo.

Por Marcos Pinto - historiador e advogado apodiense.
Blog Hipotenusa de João Felipe de Trindade

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