terça-feira, 31 de março de 2015

Os Leite de Chaves e Melo na Serra do Martins(III)

A pesquisa efetivada em mananciais temáticos da história social dos primeiros habitantes da SERRA DO MARTINS, delineia para a assertiva de que o trivial, o cotidiano e o comum angustiavam esses grandes homens, pioneiros no processo da ocupação do solo. O ambiente lhes imprimia o colorido verista da contagiante simplicida-

de bucólica. Sabiam as histórias miúdas e muitos segredos, que pediam horas de luz lunar como paisagem indispensável à suas reminiscências. 

Na retentiva dos documentos oficiais cartoriais, dos arquivos das Freguesias Eclesiásticas setecentistas, evidencia-se a saga da família LEITE DE CHAVES E MELO, cujos atos de nobreza justificava suas generosidades. Tinham como característica comum o fato de serem detentores de modos cerimoniosos e cortezes. Entrelaçaram-se à famílias que traziam no sangue a mesma identidade, com os seus costumes arraigados em firmes convicções de reciprocas lealdade e sinceridade. O grande tribuno ALMINO ÁLVARES AFONSO foi um dos mais distintos e prestimosos varões Martinenses, que ligaram o seu nome de maneira indelével aos acontecimentos de um passado glorioso, que tanto enobrece, orgulha e exalta as cidades de Martins, Mossoró, Fortaleza e Manaus.

Surgem os liames genealógicos, com os consórcios dos filhos do famigerado Capitão-Mór GERALDO SARAIVA DE MOURA (Inventariado em 1808) e de sua segunda esposa RITA MARIA DE JESUS, filha do 1º Cura da Freguesia das Várzeas do Apodi - Pároco no período de 1766 a 1776 o pernambucano de Recife JOÃO DA CUNHA PAIVA. Dois irmãos da família portuguesa LEITE DE CHAVES E MELO casaram-se com duas filhas do Capitão-Mór Saraiva de Moura, respectivamente FRANCISCO AFONSO DE CHAVES MELO e MANOEL ÁLVARES AFONSO, que casaram, o primeiro com LEANDRA, e o segundo com FRANCISCA, de cujo casal nasceu Francisco Álvares Afonso, que por sua vez foi o genitor do abolicionista e grande tribuno ALMINO ÁLVARES AFONSO.

O celebrado historiador e genealogista CARLOS FEITOSA, em sua obra intitulada "A DESCENDÊNCIA DE ANTONIO LEITE DE CHAVES E MELO - Revista do Instituto do Ceará, 68:155-177, 1954" diz que na sepultura de D. Luisa Cândida Teles de Menezes, mãe de Almino, no cemitério São João Batista, de Fortaleza, lê-se esta inscrição: "Natural da cidade de Aracati, Província do Ceará, casada no Rio Grande do Norte com Francisco Manoel Álvares Afonso, neto do Capitã-Mór Geraldo Saraiva de Moura, ficando viúva pobreza, educou heroicamente seis filhos (Vide livro "VELHOS INVENTÁRIOS DO OESTE POTIGUAR - Pág. 33 - Coleção Mossoronese - Série C - Volume 740 - Ano 1992 - Autor: Marcos Antonio Filgueira). Os antigos entrelaçamentos entre as famílias do Rio Grande do Note com as do Ceará atrelava-se ao fato de que até o ano de 1850 a cidade de Aracati foi um verdadeiro empório comercial dos sertões cearenses, a primeira praça de comércio e o mais opulento povoado da Província, para onde acorriam os comboios comerciais do Rio Grande do Norte, transportando algodão, couros bovinos e caprinos, e a cera da Carnaúba.

Um tio-avô paterno de Almino Afonso exerceu destacada relevância no movimento denominado de REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817, no Rio Grande do Norte. Trata-se do intrépido DAVID LEOPOLDO TARGINO, preso a 06 de Junho de 1817, acusado pelas forças legalistas, de subir a serra do Martins com 20 homens armados e de ser dos mais entusiasmados agentes da revolução no Rio Grande do Norte. No movimento havia a presença de bravas mulheres, mulheres que fugiam a regra da etiqueta do Séc. XIX, do espaço privado da casa, e lutaram ao lado dos maridos. Foi o que aconteceu com Ana Clara de S. José Coutinho, esposa de Estevão Carneiro da Cunha. Para enfrentar as dificuldades, os patriotas mais ricos fizeram doações, e Ana ofereceu o seu ENGENHO DO MEIO com tudo que tinha dentro: Quarenta escravos, quarenta bois e mais utensílios importantes para as despesas. Um mulher considerada poderosa, que juntou forças com o seu genro David Leopoldo Targini, para apoiar o movimento e, consequentemente, ficar ao lado do seu marido. A história amalgama os seus anais com as dinâmicas estratégias de vida adotadas pelos indômitos sertanejos.


Por Marcos Pinto - historiador e advogado. 
Blog Hipotenusa de João Felipe de Trindade

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