quinta-feira, 12 de julho de 2018

BLOG FATOS DE MARTINS

Seja bem vindos ao nosso blog, espaço destinado ao resgate da história e memória do povo martinense. Esperamos contar com a sua colaboração.
Abraço a todos

Atenciosamente:
Francisco Verissimo de Sousa Neto, criador-administrador do Fatos de Martins, integrado ao Portal Fatos do RN - portalfatosdorn.blogspot.com

terça-feira, 31 de março de 2015

Os Leite de Chaves e Melo na Serra do Martins(III)

A pesquisa efetivada em mananciais temáticos da história social dos primeiros habitantes da SERRA DO MARTINS, delineia para a assertiva de que o trivial, o cotidiano e o comum angustiavam esses grandes homens, pioneiros no processo da ocupação do solo. O ambiente lhes imprimia o colorido verista da contagiante simplicida-

de bucólica. Sabiam as histórias miúdas e muitos segredos, que pediam horas de luz lunar como paisagem indispensável à suas reminiscências. 

Na retentiva dos documentos oficiais cartoriais, dos arquivos das Freguesias Eclesiásticas setecentistas, evidencia-se a saga da família LEITE DE CHAVES E MELO, cujos atos de nobreza justificava suas generosidades. Tinham como característica comum o fato de serem detentores de modos cerimoniosos e cortezes. Entrelaçaram-se à famílias que traziam no sangue a mesma identidade, com os seus costumes arraigados em firmes convicções de reciprocas lealdade e sinceridade. O grande tribuno ALMINO ÁLVARES AFONSO foi um dos mais distintos e prestimosos varões Martinenses, que ligaram o seu nome de maneira indelével aos acontecimentos de um passado glorioso, que tanto enobrece, orgulha e exalta as cidades de Martins, Mossoró, Fortaleza e Manaus.

Surgem os liames genealógicos, com os consórcios dos filhos do famigerado Capitão-Mór GERALDO SARAIVA DE MOURA (Inventariado em 1808) e de sua segunda esposa RITA MARIA DE JESUS, filha do 1º Cura da Freguesia das Várzeas do Apodi - Pároco no período de 1766 a 1776 o pernambucano de Recife JOÃO DA CUNHA PAIVA. Dois irmãos da família portuguesa LEITE DE CHAVES E MELO casaram-se com duas filhas do Capitão-Mór Saraiva de Moura, respectivamente FRANCISCO AFONSO DE CHAVES MELO e MANOEL ÁLVARES AFONSO, que casaram, o primeiro com LEANDRA, e o segundo com FRANCISCA, de cujo casal nasceu Francisco Álvares Afonso, que por sua vez foi o genitor do abolicionista e grande tribuno ALMINO ÁLVARES AFONSO.

O celebrado historiador e genealogista CARLOS FEITOSA, em sua obra intitulada "A DESCENDÊNCIA DE ANTONIO LEITE DE CHAVES E MELO - Revista do Instituto do Ceará, 68:155-177, 1954" diz que na sepultura de D. Luisa Cândida Teles de Menezes, mãe de Almino, no cemitério São João Batista, de Fortaleza, lê-se esta inscrição: "Natural da cidade de Aracati, Província do Ceará, casada no Rio Grande do Norte com Francisco Manoel Álvares Afonso, neto do Capitã-Mór Geraldo Saraiva de Moura, ficando viúva pobreza, educou heroicamente seis filhos (Vide livro "VELHOS INVENTÁRIOS DO OESTE POTIGUAR - Pág. 33 - Coleção Mossoronese - Série C - Volume 740 - Ano 1992 - Autor: Marcos Antonio Filgueira). Os antigos entrelaçamentos entre as famílias do Rio Grande do Note com as do Ceará atrelava-se ao fato de que até o ano de 1850 a cidade de Aracati foi um verdadeiro empório comercial dos sertões cearenses, a primeira praça de comércio e o mais opulento povoado da Província, para onde acorriam os comboios comerciais do Rio Grande do Norte, transportando algodão, couros bovinos e caprinos, e a cera da Carnaúba.

Um tio-avô paterno de Almino Afonso exerceu destacada relevância no movimento denominado de REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817, no Rio Grande do Norte. Trata-se do intrépido DAVID LEOPOLDO TARGINO, preso a 06 de Junho de 1817, acusado pelas forças legalistas, de subir a serra do Martins com 20 homens armados e de ser dos mais entusiasmados agentes da revolução no Rio Grande do Norte. No movimento havia a presença de bravas mulheres, mulheres que fugiam a regra da etiqueta do Séc. XIX, do espaço privado da casa, e lutaram ao lado dos maridos. Foi o que aconteceu com Ana Clara de S. José Coutinho, esposa de Estevão Carneiro da Cunha. Para enfrentar as dificuldades, os patriotas mais ricos fizeram doações, e Ana ofereceu o seu ENGENHO DO MEIO com tudo que tinha dentro: Quarenta escravos, quarenta bois e mais utensílios importantes para as despesas. Um mulher considerada poderosa, que juntou forças com o seu genro David Leopoldo Targini, para apoiar o movimento e, consequentemente, ficar ao lado do seu marido. A história amalgama os seus anais com as dinâmicas estratégias de vida adotadas pelos indômitos sertanejos.


Por Marcos Pinto - historiador e advogado. 
Blog Hipotenusa de João Felipe de Trindade

segunda-feira, 30 de março de 2015

Os Leite de Chaves e Melo na Serra do Martins(II)

É fascinante a constatação do singular estoicismo do sesmeiro FRANCISCO MARTINS RORIZ, que no silêncio cheio de mistérios daquelas inóspitas matas se atirou com largueza pelos sertões adustos, atravessando a vastidão da serra do Apodi, seguindo veredas indígenas, as quais alargava à golpes de facão, dando vida pela dor e pelo heroísmo a mundos novos, com sangue, suor e lágrimas fecundando o fértil solo da antiga "Serra do Campo Grande". Não resta dúvida de que enfrenta um dilema: Prosseguir ou recuar. Obteve a patente de Sargento-Mór e os necessários privilégios para desbravar e colonizar aquele recanto ameno, no silêncio repleto de sol. Foi neste cenário que por volta do ano de 1820 se instalou naquele reconfortante reduto o não menos intrépido Capitão FRANCISCO AFONSO DE CHAVES MELO, irmão do famigerado Coronel ALEXANDRE JOSÉ LEITE DE CHAVES. Para configuração de liames genealógicos dos LEITE DE CHAVES E MELO na "Serra do Martins", transcrevo documento oficial - requerimento de abertura de inventário, datado de 23 de Abril de 1847:

" Dizem o Tenente Francisco Afonso de Chaves Mello, José Leite de Chaves Mello, João Quirino Afonso de Chaves Mello, irmãos, filho e neto do finado Capitão Francisco Afonso Leite de Chaves Mello; Que falecendo o pai e avô dos Suplicantes nesta Vila da Maioridade, em dias do ano de 1844 deixara alguns bens que em regra de Direito, devem ser partilhados com os Suplicantes neste Juízo de Órfãos, em consequência de haverem dois órfãos do finado João Leite de Chaves, Miguel e Antonia, menores de quatorze anos, muito pelo contrário até ao presente não se tem procedido dito inventário, no que tem dado motivo alguns extravios de bens, assim como um escravo de nome Joaquim, nação Angola, que o herdeiro Antonio Leite de Chaves e Melo, morador em Carateús, Província do Piauí, de poder absoluto dele se utilizou vendendo-o para a Cidade do Ceará, e nega trazê-lo à colação e ser partilhado entre os herdeiros, persistindo na contumácia de não dar em consequência de ser prepotente naquele lugar de diferente Província aonde jamais poderão os Suplicantes irem cobrar dito escravo, sofrendo assim prejuízos os miseráveis órfãos, porque sendo de suma responsabilidade dos Juízes de Órfãos acautelarem todo e qualquer prejuízo de órfãos como se vê na Ordenação.....Vem os Suplicantes requerer de Vossa Senhoria se digne mandar apreender ao escravo Antonio, fugitivo do herdeiro devedor Antonio Leite, o qual escravo se acha nesta Vila também requer que deveis assegurar o prejuízo por isso que sendo de poucos bens, de fato não irá caber em herança ao Suplicado talvez uma sexta parte do escravo vendido com isso será repartido pelos suplicantes órfãos que será de infalível prejuízo, a vista de que vem os Suplicantes pedir pelos órfãos seus sobrinhos requerer apreensão no dito escravo Antonio, até a decisão da partilha, posto em depósito na forma da Lei; Se passe Carta Precatória para a justiça da Vila de Piranhas aonde é morador Antonio José Leite, e Alexandre José Leite, herdeiros, para no termo de vinte dias contados do que forem citados, comparecerem neste Juízo da Maioridade para a fatura do inventário, com pena de se proceder à revelia, e como se ache na Vara o primeiro Suplente Francisco Emiliano Pereira, com legítimo impedimento de Cunhadio, se requer do mesmo que se averbando de suspeito, remeta o feito para o segundo Suplente o Capitão José Ignácio de Carvalho para prosseguir nos demais termos, portanto Pede a V.Sa. se sirva assim o deferir como requerido tem os Suplicantes. 23 de Abril de 1847."

E.R.R.J.

Francisco Afonso de Chaves Mello.
José Leite de Chaves Mello.
Joaquim Afonso de Chaves Mello.
João Leite de Chaves Mello.

Observe-se que no dia seguinte os mesmos Suplicantes replicaram em requerimento informando que é no domicílio do falecido pai que se acham a maior parte dos herdeiros. Em requerimento datado do dia 16 de Setembro de 1847 informa José Leite de Chaves e Mello que se acham ausentes em lugar incerto e não sabido os Coerdeiros descendentes de João Leite de Chaves e Mello, cujos nomes se ignoram, e os Coerdeiros Carolina, Rita e Violante, descendentes do herdeiro Manoel Álvares Afonso, e que requerem sejam os mesmos citados por Carta de Editos. Vejam que no texto acima afirma-se que CARATEÚS (atual Crateús-CE) fica encravada na Província do Piauí. Ocorre que o Ceará fez uma troca de Parnaíba com Cratéus, passando esta para o Ceará e Parnaíba para o Piauí. Tal troca deveu-se ao fato de que o Piauí pretendia ter em sua área territorial uma cidade que fosse litorânea, ou seja, situada à beira-mar.

Há uma minudência histórica sobre o fato que motivou a mudança de domicílio dos filhos de Manoel Álvares Afonso, de nomes ALMINO ÁLVARES AFONSO (Advogado), MINERVINO ÁLVARES AFONSO (Professor), DEOCLECIANO AFONSO RIBEIRO DE MENEZES (Advogado), que residiam na SERRA DO MARTINS, porém com exercício advocatício no Termo do Catolé do Rocha-PB. Ocorre que Minervino foi constituído advogado em Jericó, na Paraíba, de um desafeto de Jesuíno Brilhante conhecido como Sr. Cardoso. Ao saber do fato, Jesuíno passou a perseguir os irmãos AFONSO. Certo dia do mês de Agosto do ano de 1874 o advogado compôs uma escolta que tinha como objetivo prender os celerados Jesuíno Brilhante e Manuel Pajeú, homiziados em Jericó na casa do Professor Público Sr. Cavalcanti de Albuquerque. Vejamos o que diz a missiva enviada para o jornal "Mossoroense", que publicou em sua edição de 29 de Agosto de 1874: "...Foi descoberta a escolta - ao aproximar-se os assassinos Jesuíno e Pajeú sairam da casa, ao aproximarem-se os primeiros cavaleiros, que com o Oficial de Justiça lhes intimaram a prisão. Foi então que Jesuíno e Pajeú, reconhecendo entre esses da vanguarda ao distinto cavaleiro e ilustre Advogado Deocleciano Afonso que com grande valor cívico lhes bradou que se rendessem, desfecharam sobre ele dois cruelíssimos tiros que o deixaram varado de bala e chumbo, atirado do cavalo em terra, evadindo-se os celerados porque a tropa de paisanos, aterrada, não teve coragem de aproximar-se mais deles. O Dr. Deocleciano recuperou sua saúde, após intenso tratamento médico na Serra do Martins. O clima de terror passou a reinar na família AFONSO, dado as constantes ameaças dos bandidos Jesuíno e Manuel Pajeú. O cenário era aterrador, conforme carta publicada no "Mossoroense", edição de 04 de Outubro de 1874, pág. 03, sob o título "O DELEGADO DO CATOLÉ", cujo missivista revelou o insano ódio do Jesuíno aos irmãos Afonso: "...Todo o seu ódio, toda a sua folia, toda a sua indignação só tem por alvo aos honestos cidadãos Almino, Minervino, Deocleciano, e outros, nossos respeitáveis amigos, porque tem a esforçada coragem de enfrentar civicamente as demasias e vexames do tão enorme Delegado.".

Após as truculências sofridas por seus irmãos, Almino convenceu-os a mudarem suas residências para Fortaleza-CE, tendo antes comparecido à redação do "Mossoroense" para apresentar sua despedida. O certo é que o bravo ALMINO ÁLVARES AFONSO foi um dos baluartes no processo da abolição da escravatura em Mossoró, tendo proferido belos discursos no festivo dia da libertação geral, ocorrida no dia 30 de Setembro de 1883, sob a emblemática rubrica de ter sido a segunda cidade do Brasil a libertar os escravos cinco anos antes da famosa "LEI ÁUREA", assinada pela Princesa Isabel em 13 de Maio de 1888.

Casarão construído por José de Souza Martins Pereira, casado com Emilia Cândida de Souza, filha do mestre de latim

Por Marcos Pinto
Blog Hipotenusa de João Felipe de Trindade 

domingo, 29 de março de 2015

Os Leites de Chaves e Melo na Serra do Martins(I)

A paradisíaca serra, em sua exuberante beleza natural, contempla os viandantes que perlustram o venerando solo da antiga SERRA DA MAIORIDADE com nostálgica e misteriosa transcendentalidade. Tais predicados tem como referencial a atual cidade denominada de MARTINS, no Rio Grande do Norte. É emblemática em exponenciais figuras da Magistratura potiguar, tendo sido berço de nascimento de seis Desembargadores. O referencial toponímico pioneiro foi SERRA DO CAMPO GRANDE, denominação constante do requerimento do Capitão-Mór ALEIXO TEIXEIRA, e da concessão de Carta de Data de Sesmaria datada de 20.07.1736. Aleixo era Capitão-Mór da então Aldeia de São João Batista dos Tapuias Paiacus, do Lago Pody, atual Apodi, onde também foi concessionário, no lugar que ficou conhecido como "DATA DO ALEIXO". Como o Capitão ALEIXO caiu em comisso, ou seja, não efetivou posse na sesmaria que lhe foi concedida, seis anos após, precisamente a 1º de Março de 1742, foi concedida a mesma Data de Sesmaria ao Capitão FRANCISCO MARTINS RORIZ, que residia na Ribeira do Jaguaribe, Capitania do Ceará, que fundou no alto da serra ainda inabitada, uma fazenda e currais de gado, que passou a ser conhecida pelo nome de seu proprietário - SERRA DO MARTINS.

Emoldurando o perfil histórico desta tradicional família, detentora da nobreza de quatro costados, consigna-se que é oriunda da Ilha Terceira, do arquipélago dos Açores. A história dessa família no Brasil começa no início do século XIX, com a vinda de Portugal, do Ajudante de Cavalaria Alexandre José Leite de Chaves e Melo. Esse militar prestou importantes serviços à coroa portuguesa.

Em 1805 acompanhou o 2º Governador da Capitania do Ceará, João Carlos Augusto de Oeynhausen em expedição ao Ipú, com o objetivo de prender o Coronel Manoel Martins Chaves e seus sobrinhos, o Capitão Francisco Xavier de Araújo Chaves e Bernardino Gomes de Franco, tendo o Ajudante José Leite, desempenhado importante papel nessa missão. Em 1817 vamos encontrar Alexandre José Leite no posto de Coronel, Comandante das Fronteiras e Inspetor das Milícias do Jaguaribe, onde impede que a REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817, que subvertia a ordem nas Capitanias de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, se alastrasse até o Ceará.

Quando o Crato aderiu à causa da Revolução, o Governador mandou o então Coronel Leite marchar sobre o Cariri, a fim de sufocar a revolta.

Quando se preparava para descer sobre o Cariri, eis que recebe, oriundos do Crato, onde já havia sido deflagrada a contra-revolução, os presos: irmãos Alencares (Tristão e o padre Carlos), Francisco Pereira Maia, Pereira dos Santos e José Francisco de Gouveia Ferraz, remetendo-os para Fortaleza.

Recebidos os reforços normais constantes de tropas regulares, contingentes de índios e tropas de milícias, e como já não fosse mais preciso marchar sobre o Cariri, ordenou que se postassem piquetes nas estradas que davam acesso às Capitanias vizinhas, e marchou em fins de maio para o Rio Grande do Norte, onde pacificou o Apodi, Martins, Porta Alegre e Pau dos Ferros, fazendo numerosas prisões e obrigando o povo a acatar o governo português.

Consta que ALEXANDRE JOSÉ LEITE DE CHAVES E MELO trouxe da terra natal dois irmãos: Leandro Leite Chaves e Melo e Francisco Álvares Afonso Leite de Chaves e Melo, que no Brasil viveram e deixaram frondosa descendência. O primeiro ter-se-ia localizado no Rio Grande do Norte, transferindo-se depois para o Rio de Janeiro, deixando prole numerosa e ilustre. Francisco Álvares Afonso se radicara no Rio Grande do Norte, onde deixara muitos filhos, entre os quais: Manuel Álvares Afonso Leite, Maria Afonso de Chaves e Melo Pereira “Mariazinha”, Antonio Leite de Chaves e Melo e Alexandre Leite de Chaves e Melo. 

Mariazinha casou-se com o português Francisco Emiliano Pereira, latinista e educador de grandes méritos, tendo sido professor de seu sobrinho o Senador Almino Álvares Afonso. Sua filha Maria Joaquina Chaves, “Maroca” casou-se com o primo Ildefonso Leite de Araújo Chaves e Melo.

Manuel Álvares Afonso Leite morava entre Patu e Martins, no Rio Grande do Norte, tendo deixado dois filhos: Francisco Manuel Álvares Afonso e Viriato Afonso. Viriato foi Coletor em Independência, Ceará e Advogado em Martins e Francisco Manuel era pai do Senador Almino Álvares Afonso.

Adentrando, ainda, na contextualidade do título que encima este despretensioso artigo, é possível afirmar que há possibilidades de a fixação inicial dos LEITE DE CHAVES E MELO na "SERRA DO MARTINS" ter sido objeto de concessões de atenuantes feitas aos revoltosos alí residentes pelo Coronel ALEXANDRE JOSÉ LEITE DE CHAVES E MELO, destacando-se entre estes a inolvidável figura do Capitão ANTONIO ALVES CAVALCANTI, que é o mesmo Antonio Alves Cavalcanti citado no livro "DOCUMENTOS HISTÓRICOS", publicação da Fundação Biblioteca Nacional. Encantado com as belezas naturais e do clima ameno daquela aprazível serra, teria o Alexandre, passada a turbulência do movimento revolucionário, instalado o seu irmão Capitão FRANCISCO AFONSO DE CHAVES E MELO, em terras que teriam sido confiscadas dos partícipes revolucionários.

Por Marcos Pinto - historiador e advogado.
Blog Hipotenusa de João Felipe de Trindade

sábado, 28 de março de 2015

Os Morais Navarro na Serra de Martins

Impressionou-me a constatação da existência da estirpe MORAIS NAVARRO na lendária e uberosa SERRA DO MARTINS, tendo decorridos longos 314 anos que aportou na então cidade do Rio Grande o célebre bandeirante "CALÇÃO DE COURO" - como era conhecido o Mestre-de-Campo MANOEL ÁLVARES DE MORAIS NAVARRO, comandando o não menos famoso "TERÇO DOS PAULISTAS". O epíteto atrela-se ao fato de que a sua indumentária compunha-se de um calção de couro que descia até um pouco abaixo dos joelhos, onde era amarrado a uma espécie de bota, também de couro. Pisou o solo potiguar no dia 18 de Novembro de 1698. Era natural da então próspera Vila de São Paulo, de onde veio incumbido pelo Governador-Geral do Brasil Matias da Cunha, que dirigiu um ofício à Câmara de São Paulo, "pedindo que ela fizesse todo o esforço para conseguir que os Bandeirantes de Piratininga viessem em socorro dos seus patrícios setentrionais", que estavam sendo assolados por um LEVANTE DO GENTIO INDÍGENA. Tal correspondência foi datada de 10 de Março de 1688. Concedidas as primeiras "Datas de Sesmarias" no interior das Capitanias da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, os índios tapuias, aparentados dos Janduís, começaram a sentir os efeitos negativos, representados pela desapropriação de suas terras, para eles indispensáveis à obtenção de sua alimentação voltada para a caça,a pesca e a coleta de mel. Foi assim em Apodi, na região do Seridó, em Assu e na região do Jaguaribe, no Ceará. O combate à indiada hostil foi denominado de "A GUERRA DOS BÁRBAROS", cujo início deu-se no ano de 1683, sendo o epicentro do levante a Capitania do Rio Grande.

Da cidade do Rio Grande, ou Natal, o TERÇO DOS PAULISTAS seguiu para o Arraial do Açu, feudo dos índios Janduins ou Janduís, onde seria a sua atuação bélica. Na Ribeira do Açu novos indígenas foram alistados no Terço, provenientes da Missão Jesuíta do Reverendo Padre Philippe Bourel, Jesuíta alemão responsável pela Aldeia do então Lago Podi (Apodi), formada por tapuias paiacus. Os componentes do Terço tinham o espírito de independência exagerado, ao ponto de Morais Navarro ter saído do Açu e se dirigido até a região do Jaguaribe, onde hoje se localiza a cidade de Limoeiro do Norte, a pretexto de firmar a paz com os Tapuias, comandando 130 infantes e mais de cem índios Janduís. Antes, enviara um índio com fácil acesso àqueles, convidando-os para confraternização, prometendo-lhes presentes para as mulheres e crianças índias. Era uma cilada. Após beberem, comerem e dançarem, o próprio Morais Navarro deu início à matança, eliminando o cacique Jenipapoaassú e seu irmão, sinalizando para que os seus soldados e índios da sua tropa continuassem o cruel trucidamento, que culminou no extermínio de 450 índios, não tendo sido poupados sequer as mulheres e crianças, cujos corpos ficaram expostos, juncando aquelas plagas cearenses com tristeza e dor. Os que caíram ainda vivos pelas balas dos bacamartes e dos arcabuzes, eram passados ao fio das espadas, ou seja, degolados. Esse trucidamento ocorreu a 04 de Agosto de 1699.

No que diz respeito à presença da família MORAIS NAVARRO na "Serra do Martins", encontrei no arquivo morto do 1º Cartório Judicial daquela cidade, um inventário do ano de 1924, no qual consta como inventariado o Sr. ANTONIO CIPRIANO DE MORAIS NAVARRO, que havia falecido a 24 de Janeiro de 1917, deixando a viúva Sra. Lívia Augusta Soares de Morais, e os filhos:

F.01- ALEXANDRINA DE MORAIS SOARES - Casada com Mecenas Messias Soares.

F.02- ANTONIO CIPRIANO DE MORAIS NAVARRO. (Repete o nome do pai). - Casado com Clarice de Lavor Navarro.

F.03- PHILOMENA DE MORAIS NAVARRO.

F.04- THEREZA DE JESUS LISBOA - Casada com José Rosendo de Lisboa.

F.05- IDALINA DE MORAIS NAVARRO.


O patrimônio do falecido representava uma considerável abastança, posto que constava uma formidável fazenda, denominada de "Sítio Oriente, antigo sítio 

Pé-de-Serra, com dois engenhos: Um para a fabricação de farinha de mandioca e o outro para a fabricação de rapaduras. Consta, ainda, uma casa senhorial situada na praça da Conceição (Ao lado da Igreja-Matriz de Martins) fazendo esquina com a Rua Senador Pedro Velho, contando duas portas e duas janelas na frente, e uma porta e três janelas no oitão que deita para o poente, devidamente murada. Essa majestosa casa ainda encontra-se edificada e bem conservada, onde reside atualmente a abnegada professora aposentada AZELMA ROSENDO. Sugiro aos estudiosos da genealogia martinense, que envidem esforços no sentido de procurarem o liame genealógico que liga o descendente martinense ao famigerado Mestre-de-Campo Manoel Álvares de Morais Navarro.

Lendo uma edição fac-similar do jornal "MOSSOROENSE", Edição de 11 de Fevereiro de 1874, encontrei cópia de sentença condenatória do Capitão João Félix de Morais Navarro, que residia na então Vila de Portalegre, sentenciado como um dos autores intelectuais (mandante) dos crimes de mortes perpetrados nas pessoas de José Marcolino de Bessa e de Ricarte José da Silva. Surge a necessidade de acurada pesquisa de campo, para averiguar se este militar deixou descendência naquele belo rincão sertanejo.

Por Marcos Pinto - historiador e advogado apodiense.
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